É o arquitecto português mais famoso e consagrado internacionalmente. A paixão de Álvaro Siza Vieira pelo desenho vem de longe - e mantém-se até hoje. Representante da chamada Escola de Arquitectura do Porto, realizou obras emblemáticas como o Pavilhão de Portugal da Expo'98, a Igreja de Santa Maria, em Marco de Canaveses, ou o Museu de Arte Contemporânea da Galiza. Com os edifícios de Siza, várias cidades do mundo ganharam cartões-postais instantâneos de apurado bom gosto. "É uma grande figura da arquitectura mundial", diz Delfim Sardo, professor universitário.
O currículo de Siza Vieira é vasto demais para ser arrumado em tão pouco espaço. Ele é o senhor do traço que, nas últimas décadas, ganhou projecção e estatuto mundiais. Hoje, os seus clientes buscam uma assinatura. Procuram o Siza como procuram o quadro de um pintor. Ainda está por decifrar a arte de ser Siza Vieira...
O mais famoso e consagrado arquitecto português nasceu em 1933 em Matosinhos. Desde muito pequeno, começou a desenhar - ainda hoje desenha muito. Estudou na Escola Superior de Belas-Artes do Porto de 1949 a 1955 e neste ano começou a trabalhar com o arquitecto Fernando Távora, durante três anos. Mas a sua primeira obra construída data de 1954, ano que marcou o verdadeiro arranque de uma carreira brilhante em Portugal e no estrangeiro. Já nessa altura a sua arquitectura não deixava adivinhar por fora a importância que a luz tem por dentro.
Em 1966 tornou-se professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e, nesta qualidade, visitou e conferenciou nas mais importantes escolas em todo o mundo. Siza é, sem dúvida, um vulto de peso na arquitectura mundial. Na chamada "economia do 'design'", em que a forma ganha a cada dia mais poder no panorama internacional, a arquitectura é influenciada por esta imposição do belo. Até pode custar a entender, mas os novos "cartões-de-visita" arquitectónicos que surgem nas grandes cidades mundiais mostram que a forma é tão - ou mais - importante do que a função. A realidade é esta: a combinação de ambas é essencial para o sucesso. Na era do "design", os arquitectos conquistam mais reconhecimento e são mais famosos do que pintores e escultores.
Álvaro Siza Vieira é, seguramente, o mais aclamado arquitecto português a encaixar nesta categoria e um dos primeiros a perceber que hoje há uma procura cada vez maior da beleza. As pessoas querem lugares bonitos - além de práticos e cómodos - para morar e visitar. Condecorado há dois anos com o Leão de Ouro na Bienal de Arquitectura de Veneza, os principais projectos de Siza incluem intervenções urbanas em cidades tão distintas como Berlim, Maastricht, Macau e Lisboa, onde realizou a espectacular edificação do Pavilhão de Portugal, na Expo'98, com a sua "vertiginosa" pala de betão que parece suspensa entre os dois edifícios. As suas obras já foram expostas em todos os cantos do mundo, desde o Museu de Arquitectura de Helsínquia e o Museu Alvar Aalto, na Finlândia, em 1982, até ao Centre Pompidou, em Paris, em 1982; e passando na Yokohama Portside Gallery, em Yokohama, em 2002. O currículo de Siza Vieira - com uma interessantíssima incursão no "design" nos últimos anos - mostra que a arquitectura e o "design" podem (e devem) andar de braço dado.
Pormenor interessante: o percurso de Siza começou na cozinha da sua avó. Bom, não chegou a ser uma obra de arquitectura, mas andou perto. A intervenção foi realizada com muito entusiasmo, mas ainda assim Siza não se livrou de comentários familiares do género "Mas que esquisito!", devido sobretudo a um candeeiro "bauhausiano" todo florescente, desenquadrado dos ditames estéticos da época. Antes de optar pela arquitectura, Siza queria ser pintor ou escultor. "Siza Vieira tem uma capacidade inovadora e uma determinação em relação à sua estética 'minimal' que é espantosa", refere o produtor de moda Mário Matos Ribeiro.
É autor de vários projectos. Veja se acompanha: o Museu de Arte Contemporânea da Galiza, o Museu de Arte Moderna do Porto, o Bairro da Malagueira, em Évora, a Escola Superior de Educação de Setúbal, a Biblioteca da Universidade de Aveiro, a recuperação da zona sinistrada do Chiado, em Lisboa, a Casa de Chá da Boa Nova e as Piscinas de Marés, em Leça da Palmeira, a Faculdade de Ciências da Informação, em Santiago de Compostela, os blocos 6-7-8 de Cerámique Terrein, em Maastricht. Ninguém fica indiferente à sua obra. Uns amam, outros torcem o nariz aos projectos rectilíneos de Siza Vieira.
Não esqueçamos o que o tornou um nome reconhecido por toda a gente - o emblemático projecto de construção cooperativa de vivendas sociais patrocinadas pelo projecto SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), lançado logo a seguir ao 25 de Abril para acabar com os bairros de lata existentes em redor das grandes cidades portuguesas. Siza Vieira foi um dos arquitectos que participou activamente no projecto, ao desenhar alguns bairros em Évora e no Porto. Nesta última cidade, projectou as vivendas do Bairro de S. Victor e do Conjunto Habitacional da Bouça, começado em 1975 e suspenso em 1977, e de facto só terminado em princípios de 2006.
Ele é - sempre foi - um arquitecto dos extremos. Quando projectou a Igreja de Santa Maria, em Marco de Canaveses, a obra foi severamente criticada, e só mais tarde aplaudida. Mas a maior parte dos seus esquissos originam edifícios fabulosos, cheios de luz e com uma sofisticada "legislação" estética. Siza é conhecido pelo seu gosto requintado e inesgotável imaginação. Enquanto alguns se entretêm a criticar a obra de Siza, várias cidades do mundo ganham cartões-postais instantâneos com as suas obras de apurado bom gosto. "É um arquitecto que consegue aliar um racionalismo, que tem a sua origem no movimento moderno da arquitectura, a uma sensibilidade espacial rara", define-o o professor universitário e ensaísta Delfim Sardo.
Siza alia, em doses improváveis, capacidade de trabalho e sensibilidade. Há muitos arquitectos criativos, sensíveis, emocionais, mas poucos que consigam, depois, passar as suas criações à prática. Mas há mais! É daqueles que não sujeita a reflexão e a condução do trabalho à necessidade de agradar. Às vezes, soa mesmo a provocação. Com a ousadia de um pássaro que não tem medo do voo picado, geralmente leva as suas concepções até ao fim.
E como é o homem por trás do esquisso? Tímido, criativo e obstinado. Adora viajar. "É como carregar uma bateria, recolher informação, sentir a ausência de 'stress', mas essencialmente prazer", afirmou ele numa recente entrevista à revista "Fora de Série", do "Diário Económico". Assim contadas, naquela orgulhosa pronúncia da Foz, as histórias são mais saborosas.
Muitas viagens, clientes à escala mundial e trabalho com qualidade internacional - o que faltaria para compor o retrato de um privilegiado cidadão do mundo? Curioso em toda a parte, Siza não se sente isolado em parte alguma.
Ao Leão de Ouro na Bienal de Veneza, Siza alia uma lista de prémios quase interminável, que inclui a Medalha de Ouro da Fundação Alvar Aalto, o Prémio Europeu de Arquitectura da Comissão das Comunidades Europeias, o Prémio Pritzker da Fundação Hyatt, de Chicago, o Premium Imperiale da Japan Art Association, o Prémio de Arquitectura da Wolf Foundation, de Israel, e a Medalha Internacional das Artes 2002, atribuída em Madrid. É obra!